Descobrindo minha Capital

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sábado, 26 de junho de 2010

MARIA DE FÁTIMA: UMA GUERREIRA.

Fazendo uma faxina em um guarda-roupa, encontrei um texto que foi escrito por Lú, um amigo da família. Ele escreveu um pouco da história de vida de minha mãe, fiz algumas modificações, e resolvi colocar no blog.
Era 1955, seis de janeiro, um típico dia de verão, nascia Maria de Fátima, em Boquim- Sergipe. Uma nordestina, batalhadora, que apesar das dificuldades, criada sem os pais, com avó materna, deu a volta por cima, e até o fim de sua vida, conseguiu ser exemplo para todos que estavam a sua volta.
Como sua mãe faleceu muito cedo, seu padrasto, resolveu dar os filhos para os parentes mais próximos, alegando que não tinha condições de criar tantas crianças. Minha mãe foi crescendo sem a presença de nenhum irmão, só com primos (as), um deles foi o Mundinho, que a acompanhou até a sua morte em 2007.
Minha mãe foi uma pessoa que por toda a sua vida fez só se doar, ela foi uma grande luz em minha vida (ao escrever estas linhas, fiquei bastante emocionada).O ser humano nunca está satisfeito, muitas vezes, penso que podia ter sido muito melhor com ela, sabe, aquela sensação que tá faltando algo, é assim comigo.
Como todo interiorano, teve que trabalhar cedo, aprender os afazeres domésticos cedo. Com nove anos, ela já fazia tudo na casa da avó, que trabalhava na roça, ela tinha sítios.
Ela nos contou duas histórias engraçadas que aconteceram quando criança em Boquim: quando ia buscar água para beber, tinha que subir, e descer uma ladeira enorme com pote em cima da cabeça, quando não estava muito a fim, ela quebrava de propósito o pote, tomava uma surra daquelas, ou, quando a avó determinava o que os netos iam comer quando ela ia trabalhar na roça, a fome batia na galera, e ela resolvia pegar as piabas que estavam em penduradas no telhado pra os outros dias, ela comia o melhor do peixe, e dava as cabeças para os primos comer.
Como a sua avó era muito canguinha, mão de vaca, mandava fazer as roupas dos netos com saco de farinha. A vida de surras por qualquer motivo veio melhorar quando a avó se casou novamente, pois, o novo marido não deixava a esposa bater nos netos, principalmente, minha mãe que ele gostava muito.
Minha mãe, perto dos quinze anos, teve uma febre muito forte (alguns diziam que foi a febre tifóide, que veio a prejudicar seu rim direito), ficou tão mal, que chegaram a colocar vela em sua mão, pensando estar morta. O único parente que se interessou por ela foi à mãe do seu primo Mundinho, levando-a para um hospital em Estância-Sergipe chefiado por feiras. Depois de curada, pouco tempo depois, foi trabalhar em uma casa de família como cozinheira em Aracaju, foi neste emprego, que ela conheceu Mara, que foi a sua única irmã de fato. Inicia-se, uma bela amizade, que eu, e minha irmã estimamos muito.
Passados alguns anos, ela passa a trabalhar em um restaurante que pertencia à dona Corisa, uma tia de meu pai, foi lá que ele a conheceu. Ela nos contou que para trabalhar lá, teve que mentir a idade, e que, usava um banquinho para poder alcançar a pia. Antes de trabalhar no restaurante, recebeu um convite para trabalhar como cozinheira em São Paulo, para uma família de um engenheiro, resolveu recusar.
A aproximação dos meus pais se deu de uma forma engraçada, minha sempre via meu pai beber no bar da tia dele, todo largadão, e perguntou a ele como podia trabalhar a semana toda, e gastar todo o salário em bebida, foi aí que ela perguntou se ele não queria abrir uma caderneta para ele guardar parte do salário, e ele gostou da idéia. Daí em diante, passaram a conversar mais, e acabaram dando início a um namoro. O namoro foi ficando tão forte, que resolveram morar juntos, e nem casaram-se no civil.Passaram alguns anos , e eu nasci, em oito de outubro de 1977, com quatro quilos e meio, de parto normal.
Como já tinha vindo alguns tios meus para Salvador, meu pai resolveu vim também, me deixando com minha avó em Aracaju, os dois preferiram se instalar primeiro, para depois me buscar, minha mãe dizia que meu pai chorava por ter deixado a filha recém-nascida...
Moramos primeiro em um dos quartos de aluguel do finado Nozinho, tempos depois, meu pai comprou um terreno ao lado, construiu a nossa casa, onde moramos até os meus sete anos. Passamos a morar na Rua do Retiro em 1984, minha estava grávida de minha irmã Tatiana, e estamos nesta casa a vinte e cinco anos. Nós somos filhos de Itapuã, bairro que gosto muito.
Meus pais, só se casaram no civil, em 1987 quando a minha irmã tinha três anos, e eu, dez. Tanto eu, como minha irmã, temos em nossos registros, o nome de solteira de minha mãe, Maria de Fátima Oliveira Santos.
Apesar da minha mãe, não ter aprendido a ler, e a escrever, bem, ela andava para todos os bairros de Salvador, e tinha um grande talento para o artesanato, pintura em tecido, vidros, rechilier, vagonete, ponto de cruz, costurava, e para o comercio, nos deixou, na porta de nossa casa, um pequeno bar, que começou como uma barraca de zinco que vendia doces, onde temos muito espaço para ampliar, o que falta é dinheiro, é um sonho que quero realizar.
O problema renal a acompanhava desde a adolescência, mas, a primeira cirurgia só foi feita em 1998. Anos mais tarde, começam a aparecer outros problemas de saúde, ela era fumante, e isso, complicava mais a sua saúde. Contudo, só Deus para compreender os mistérios da vida, todos tem sua missão a cumprir, ela, soube ser o mais clama possível quando soube que sua caminhada no planeta Terra chegaria ao fim, é duro ver quem amamos perder o brilho da vida aos poucos e não poder fazer nada...
Com toda certeza, eu aprendi muito com minha mãe, claro, tivemos nossos desentendimentos, é normal, cada ser humano pensa de um jeito, mas eu sei que nada é por acaso neste mundo, Deus, ME DEU ESTA FAMÍLIA para aprender muito com ela, para um cuidar do outro, e é isso que vou fazer sempre, que Deus ilumine a minha mamita eternamente.






Minha mãe adorava esta canção,e sinceramente, também gosto,apesar de ser uma canção antiga.

Um comentário:

Cristi@ne Oliveira disse...

Adriana, que texto lindo! Também fiquei muito emocionada ao lê-lo. Vou mostrar pra mãe e tenho certeza que ela ficará tão emocionada quanto eu. Só faltou vc citar vó aí, pois ambas se amavam muito; e tia a tinha como uma mãe. Agora as duas estão juntas ao lado do Senhor. Parabéns pela iniciativa de enriquecer o seu blog com esse depoimento tão comovente e cheio de sentimento.