Descobrindo minha Capital

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sexta-feira, 20 de agosto de 2010

AS PEÇAS DO AXÉ.

Sabe o que os baianos tinham no Carnaval no século XIX? Acreite se quiser: ópera."Não havia música carnavalesca", conta o pesquisador Paulo Miguez da Universidade Federal da Bahia."Cantavam-se trechos operísticos na rua".É que a influência do batuque negro ainda era tímida.A folia baiana sempre teve algum reflexo da cultura dos escravos, "pela forma de se exibir, desfilando e cantando, que lembra os traços das festividades nigerianas do Dumurixá e do Gueledé", segundo o sociólogo Antônio Risério, autor de Carnaval de Ijexá.Só que, no começo, os descendentes de africanos ainda estavam confinados à periferia de Salvador.
Em 1895, sete anos depois da abolição da escravatura a cidade parou, atônita, quando um grupo de negros da etnia nagô vestiu batas da África e desfilou, pelo centro na Embaixada Africana, o primeiro afoxé.Na língua iorubá, da Nigéria, afoxé significa encenação ritual.Ele deu ao desfile um enredo e uma dança encandeada, o ijexá, marcada pelo atabaque, tembor que se toca direto com a mão, e o agogô, duas campânulas de ferro percutidas com uma vareta de metal.A partir daí os afoxés tomaram conta do pedaço.
Até os anos 50, o Carnaval branco ocorria dentro dos clubes e o negro, na rua.Houve, então, uma revolução tecnológica, a do trio elétrico.Atrás dele, surgiram multidões enlouquecidas, pulando e misturando frevo, marchinhas e música popular em geral.Os negros ainda tentaram resistir, mas, 1987, depois que o bloco Olodum aderiu ao caminhão eletrificado, a inspiração africana juntou-se à cultura do axé.Uma fusão escaldante de culturas e ritmos de várias origens, mas com a raiz africana dando o têmpero geral.


Trecho extraído da revista SUPERINTERESSANTE DE FEVEREIRO de 1998.

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